Mercado Central de Pelotas

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Compras à moda antiga

Com sua ordem de construção tendo sido assinada em 1846, o Mercado Central de Pelotas renasceu após ser restaurado e requalificado. Os açougues, que oferecem cortes variados para todos os gostos e bolsos, são os legítimos herdeiros do comércio da carne; o produto das charqueadas era vendido in natura no Centro e acabou impulsionando a construção do entreposto. As peixarias ganharam seu espaço mais recentemente, mas já são tradicionais e ficam abarrotadas de gente, especialmente em épocas festivas, como a Semana Santa.

No interior do prédio que abriga comércio pelo menos desde 1851, a oferta é variada: produtos naturais, artesanato, artigos tradicionalistas, restaurantes e, claro, os irresistíveis doces de Pelotas. Ao cair da tarde e aos sábados, os bares são palco para manifestações variadas de cultura popular: música ao vivo, roda de samba e exposições artísticas eram frequentes antes da pandemia. Hoje, comerciantes, prefeitura e o povo de Pelotas aguardam com ansiedade o fim das restrições para voltar a curtir a vida em volta de seu velho mercado.

O mercado passou por várias fases. Na época em que foi construído, a arte voltada para a elite pelotense ocorria na Biblioteca Pública e no Theatro Sete de Abril, mas as manifestações artísticas populares, acessíveis a todos, rolavam no mercado. Hoje o local voltou a ser um ponto de encontro, palco para o entretenimento e para a cultura popular“. A análise é do jornalista Klécio Santos, autor do livro “Mercado Central de Pelotas – 1846-2014”, publicado pela editora Fructos do Paiz. Na obra, Santos sintetiza uma longa pesquisa sobre a trajetória de um dos prédios mais emblemáticos do Centro Histórico, que ajuda a contar a história da Princesa do Sul, apelido dado à cidade pela opulência e refinamento que ostentou no auge do ciclo do charque.

Mesmo antes de ser concluído, o prédio já abrigava, em seus arredores, o comércio de alimentos como hortigranjeiros e, principalmente, de carne procedente das muitas charqueadas estabelecidas na zona rural. A carne bovina que não virava charque era vendida in natura ali mesmo, em condições de higiene bastante duvidosas. Até o final do século XIX, o mercado foi um centro comercial de grande diversidade cultural. Apresentações de músicos e artistas circenses e até sessões de cinema ocorriam ali.

A chegada do século XX veio com reformas no prédio que já estava apertado, degradado e obsoleto. Em crônica publicada em 1912, o escritor Simões Lopes Neto menciona as obras no mercado, que empregaram temporariamente muitos dos pobres, ex-escravizados e peões de estância desempregados que perambulavam por Pelotas nesse período. Em 1914 se concluem as obras que deixaram o prédio com as feições que tem atualmente, com a estrutura metálica que imita a Torre Eiffel, 44 quartos e 40 bancas internas, o relógio e os portões importados da Bélgica.

Em 1969, um grande incêndio destruiu boa parte do prédio, deixando intacta apenas a estrutura de ferro. Por ser um dos únicos no país a se localizar no Centro e não na região portuária, a especulação imobiliária representou tensão extra: o fogo foi forte argumento para demolir o mercado e erguer um supermercado em seu lugar. Felizmente, a prefeitura decidiu reconstruir o prédio, especialmente em função das cerca de 200 famílias cujo sustento dependia do entreposto. Em 1985, o então prefeito Bernardo de Souza decretou o tombamento do prédio.

Em 2001 Pelotas aderiu ao programa Monumenta, iniciativa do governo federal que financiou a restauração de sítios históricos em todo o País. A primeira etapa contemplou a restauração e requalificação da área central, com obras na Praça Coronel Pedro Osório e no Mercado. Junto com a longa restauração veio a redescoberta do valor afetivo e histórico do velho prédio. 

Diferentes tipos de empreendimentos como bares, restaurantes, docerias, lojas de artesanato e souvenirs, comércio de produtos naturais e coloniais, barbearias, peixarias e açougues estão entre as atrações do Mercado Central de Pelotas. Na Banca 75, fica o Centro de Atenção ao Turista e o Memorial do Mercado, que conta em detalhes a história do prédio e do seu entorno – em função da pandemia, este Centro está fechado e as demais bancas funcionam conforme as regras impostas pelas bandeiras no modelo de distanciamento controlado. Apresentações musicais, eventos do Dia do Patrimônio e até um Mercado de Pulgas, semelhante às tradicionais feiras de antiguidades populares em Montevidéu, ocorriam regularmente no pátio interno e no Largo Edmar Fetter.

Fonte: Patrícia Lima – Jornal O Comércio

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